Aprendi a tratar aquela casa com a reverência merecida, apesar da sua evidente modéstia, por ser a casa da minha Bisavó.
Eu era apenas um miúdo mas nunca me esqueço de subir por entre estas ruas e escadas com a minha mãe e o meu irmão como se a cada vez fossemos cruzados a tomar Lisboa que primeiro paravam no Manuel Tavares para se abastecerem com amêndoas que iam trincando pelo caminho. Depois sim, o ziguezague por entre as ruas estreitas e para rematar, as escadas dentro do prédio tão acentuadas que mal cabia um pé e a subida até ao segundo andar mais parecia uma escalada.
Lembro-me dos cheiros, de ir lá no verão e a casa estar sempre fresca. Lembro-me da cozinha, da sala e do barulho que o telefone fazia quando tocava. Lembro-me de todas as histórias que ela me contava e da hora de ir embora que era sempre cedo demais.
Hoje fui visita-la, mas já não subi, já não está lá. Já não está lá há mais de 30 anos. A janela da cozinha que estava sempre aberta, agora está triste e sombria como um olhar vazio, e o negro que se vislumbra a igualar o vazio deixado na partida.
Uma casa não o é só pelas paredes que a formam, mas pelo que estas contém. Quando as paredes apenas contém silêncio já não formam uma casa, apenas o eco nas formas dos quadros há muito retirados da parede.
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